A receita de hoje no tem nenhuma razão especial, além de eu tê-la visto num vídeo e ter gostado. Mas por ser um bolinho alemão (Baumkuchen me parece pelo menos ser um nome tipicamente alemão 🙂 ), ela me lembra de uma outra história bem divertida!
Depois que me mudei pra Russia, eu tenho viajado pra uma quantidade bastante razoável de lugares diferentes. Mas em parte pela proximidade e pelos nossos gostos, já viajamos três vezes pra Alemanha desde que chegamos aqui.
Cada vez fui pra uma cidade diferente (Nuremberg, Frankfurt e Munique, nessa ordem) e todas as três são extremamente sensacionais. Ainda quero ir pra Berlin (nem eu e nem o Glauber fomos pra lá, por incrível que pareça), mas não é sobre isso que eu vim contar pra vocês.
Todas as três viagens envolveram histórias divertidas, mas a minha preferida foi a segunda viagem, pra Frankfurt.
Eu não sei se você sabe disso, mas eu tenho um péssimo gosto musical. Péssimo, sofrível.
Por muitos anos, eu morria de vergonha quando as pessoas me perguntavam que tipo de musica eu gostava. Na maioria dos casos, ou eu ouvia um “AHN? quem é esse?” ou um “credo, mas você gosta disso?”.
Então eu geralmente desviava o tópico quando ele aparecia e quando isso era simplesmente impossível, eu dava uma resposta parcialmente correta, do tipo “eu gosto da Celine Dion”.
De uns tempos pra cá, por motivos de velhice, eu parei de me preocupar com essas coisas. Não é que eu tenho mau gosto musical. Ele só é, digamos, peculiar. E dane-se.
No final de 2012, eu vi que o Ronan Keating (um dos meus ídolos da infância) iria fazer vários shows na Alemanha no inverno de 2013. Quase tive um treco, e nem precisei pensar 2 vezes. Comprei o ticket pra mim no dia em que eles sairam pra venda, além de passagens de ida e volta pra Frankfurt pro Glauber e pra mim.
Mas como nada que não é minimamente planejado funciona, a gente descobriu (depois de ter comprado as passagens), que tirar uma semana inteira de férias na Alemanha não ia ser muito “budget friendly”. Como o Glauber tinha umas milhas sobrando da British Airlines, a gente decidiu ficar 2 dias na Alemanha, 3 dias em Londres e depois voltar pra cá. Eu já tinha feito duas conexões em Londres, mas nunca tinha ido na cidade. Achei que ia ser uma ótima idéia e topei.
Passei os dois dias na Alemanha na casa de dois amigos queridíssimos, e no final do segundo dia fui no bendito show. Sentei na primeira fileira, cantei até ficar rouca e voltei pra casa meio atordoada. Afinal de contas, né? Não é todo dia que você vê um show do seu ídolo. Ainda mais pra quem mora num canto do mundo e resolve gostar de coisas além do Atlântico.
Bom, no dia seguinte ao show acordei, arrumei a mala e fui toda feliz pro aeroporto. Porque bom, além de finalmente ir visitar Londres, eu tinha acabado de assistir o melhor show da minha vida. Ok, tudo normal até aí.
Quando eu fui pro portão de embarque, reparei que tinha um vôo pra Dublin no portão ao lado do meu. Lógico que eu aproveitei a oportunidade pra fazer todo tipo de piadinha e comentário impertinente a respeito disso – coitado do Glauber que tem que aguentar meus surtos de amor pela Irlanda – quando, não mais que de repente, eu vejo o Ronan entrando no salão de embarque também, com tickets do voo indo pra Dublin.
Eu ainda não sei como (juro!) eu não tive nenhum surto muito sério nesse momento. Sem pensar muito, peguei minha câmera, dei um tapinha nas costas do moço e na maior finesse disse: “Oi, tudo bom? Fui no seu show ontem, posso tirar uma foto com você?”. Tirei a foto, saí de perto com toda a compostura que eu consegui arranjar naquele momento fui sentar quietinha no meu portão.
Eu não me lembro de muita coisa depois disso, mas eu acho que eu passei uma hora sem falar uma palavra. Foi um momento muito emocionante.
A viagem pra Londres foi um sucesso total, mas acho que nada que possa ter acontecido por lá ia superar os acontecimentos no aeroporto de Frankfurt.
Os desdobramentos dos acontecimentos desse dia foram bastante interessantes, e muito provavelmente uma das razões pelas quais eu estou indo estudar culinária em Paris esse ano, é decorrente disso.
Sim, eu sei que isso não faz muito sentido pra você, mas na minha cabeça faz e bom, se você leu esse post até aqui, já deu pra perceber que normalidade passa longe daqui, né?
Bom, é isso. The end! Vamos à cozinha, quer dizer, ao Baumkuchen!
Eu sei que a receita parece complicada, mas não é. Se você souber fazer panquecas, já é meio caminho andado 🙂
As únicas coisas que você vai precisar é de um forno que tenha grill no teto (a maioria dos forninhos elétricos tem isso), e uma forma redonda pequena de fundo grosso (como essa aqui).
Cada camada fica cerca de 4-5 minutos no forno, ou até ela ficar bem moreninha. Só precisa ter cuidado pra não queimar, então é bom ficar de olho.
Essa receita de Baumkuchen também fica ótima se você quiser fazer porções individuais. Ao invés de fazer na forma redonda, use uma forma quadrada ou retangular pequena, e corte o bolo em quadradinhos. Banhe cada um dos pedaços em ganache e cubra com frutas secas (imagino que nozes ou pistache ficariam show aqui).
É uma receita perfeita pra um chazinho da tarde no final de semana!
- 4 ovos
- 1 colher de sopa de essência ou extrato de baunilha
- ¼ de xícara de leite
- 2 colheres de sopa de rum
- ¾ de xícara de açúcar
- ¾ de xícara de brown butter
- ½ xícara rasa de farinha peneirada com 1 colher de sopa de maisena
- 150g de chocolate meio amargo
- 50g de creme de leite (de caixinha ou UHT)
- Em uma vasilha média (de preferência de metal ou de vidro resistente), adicione os ovos, o açúcar, a baunilha, o rum, o leite e bata com um fouet até que se forme uma mistura homogênea.
- Leve essa mistura ao banho maria por cerca de 5-7 minutos, tomando sempre cuidado pra que a água não toque o fundo da vasilha.
- Depois, bata essa mistura na batedeira por cerca de 10 minutos ou até que ela triplique de tamanho.
- Quando a mistura já estiver quase pronta, vá adicionando brown butter aos poucos até que tudo esteja misturado.
- Pare de bater e peneire a mistura de farinha e maisena sobre a mistura de ovos.
- Vá incorporando a farinha com um fouet ou uma espátula, tomando sempre cuidado pra não ter porções de farinha sem misturar.
- Unte com manteiga uma forma de fundo falso grosso (eu usei uma de 18 cm), pra não correr o risco de queimar seu bolo.
- Corte um círculo de papel manteiga do tamanho do fundo da sua forma, e forre-a com o papel.
- Unte o papel com manteiga também.
- Pré-aqueça seu forno com o grill ligado no máximo que seu forno aguente (no meu caso era 220 graus -- na receita original ele diz 260 graus).
- Se estiver usando um forno tradicional grande, não se esqueça de colocar a grelha no ponto mais alto que você encontrar dentro do seu forno. Seu bolo precisa dourar bem rápido, então ele tem que ficar o mais próximo possível do grill.
- Adicione ½ xícara de massa no centro do fundo da forma.
- Vá girando delicadamente a forma até que a massa tenha se espalhado pelo fundo, formando uma camada bem fininha de massa, como se você estivesse fazendo uma panqueca.
- Leve ao forno já aquecido por cerca de 5-7 minutos ou até que a superfície da massa tenha ficado dourada.
- Retire a forma do forno e coloque mais ½ xícara de massa por cima, até que toda a massa já assada tenha sido coberta.
- Leve novamente ao forno e repita esse procedimento até que toda a sua massa tenha sido usada.
- Retire o bolo do forno e deixe-o esfriando em temperatura ambiente.
- Aqueça o creme de leite até que as primeiras bolhas comecem a aparecer.
- Despeje o creme sobre o chocolate picado e vá mexendo até que o chocolate derreta e a mistura fique homogênea.
- Com a ajuda de uma espátula, cubra o bolo com a ganache, tomando cuidado pra que os lados do bolo também fiquem cobertos.